Pangur Bán

No século IX, um monge irlandês anónimo escreveu, no mosteiro de Reichenau, um poema ao seu gato branco, Pangur Bán, companheiro nas longas e solitárias horas de trabalho sobre textos que, já na altura, eram antigos e de difícil compreensão.

Segue a transcrição do texto original e uma tradução livre da minha mão:

Messe ocus Pangur Bán,
cechtar nathar fria saindan
bíth a menmasam fri seilgg
mu menma céin im saincheirdd.

Caraimse fos ferr cach clú
oc mu lebran leir ingnu
ni foirmtech frimm Pangur Bán
caraid cesin a maccdán.

Orubiam scél cen scís
innar tegdais ar noendís
taithiunn dichrichide clius
ni fristarddam arnáthius.

Gnáth huaraib ar gressaib gal
glenaid luch inna línsam
os mé dufuit im lín chéin
dliged ndoraid cu ndronchéill.

Fuachaidsem fri frega fál
a rosc anglése comlán
fuachimm chein fri fegi fis
mu rosc reil cesu imdis.

Faelidsem cu ndene dul
hinglen luch inna gerchrub
hi tucu cheist ndoraid ndil
os me chene am faelid.

Cia beimmi amin nach ré,
ni derban cách a chele
maith la cechtar nár a dán,
subaigthius a óenurán.

He fesin as choimsid dáu
in muid dungní cach oenláu
du thabairt doraid du glé
for mu mud cein am messe.

Eu, e mais Pangur o Gato,
trabalhamos de modo grato:
ele, ávido, a caçar os ratos;
eu a escrever em livros raros.

Não há gesta de glória vaidosa
maior que a escrita em verso ou prosa —
mas Pangur Bán não tem inveja:
fica contente com caçar a presa.

E passamos horas, sós na casa
absortos cada um na nossa ânsia:
ele, certeiro, em encher o ventre;
eu, ausente, a nutrir a mente.

Às vezes sucede que desafia um rato
as poutas velozes do meu branco gato.
Nas palavras, nos livros, sucede o mesmo
quando não consigo traduzir um termo.

Descansa a olhada, de momento frustrada,
no oco da parede onde o rato escapara.
E da mesma forma passo a noite a bater
contra velhos textos o meu pouco saber.

Que alegria invade o coração do meu gato
quando a presa sai por fim do buraco!
E igual eu me sinto, orgulhoso e listo,
quando um termo difícil revela o sentido.

E desta forma trabalhamos ambos:
com paciência, em companhia, sem sobressaltos,
cada um envorcado por completo na Arte:
ele na sua, eu na minha parte.

A prática virou Pángur Bán mestre
na arte de caçar roedores silvestres.
Eu ganho, passeninho, maior sabedoria
a trabalhar nos meus textos, noite e dia.

Podes ouvir uma versão (moderna) do poema musicado por Pádraigín Ní Uallacháin, do seu álbume Songs of the Scribe. Há também uma pouca (mais não muita) de informação adicional no artigo correspondente da Wikipédia, incluída uma tradução para o inglês.

 

nek-gris-100x100