Crónica: «Retorno a la Espada 2025»

Vai aí uma semana do «Retorno a la Espada» que a gente da Palestra Pedro Monte, dirigida por Pedro Velasco, organiza — e já passou a ressaca pós-evento e é hora de recapitular.

Este ano foi um encontro bastante íntimo, a reunir instrutores e salas com uma perspetiva comum das HEMA. Os instrutores foram Iacopo Zanini, Pedro Velasco e Esko Ronimus e os workshops tiveram, ademais, um fio condutor muito interessante: a evolução da biomecânica nas escolas itálicas de esgrima ao longo do S.XV.

Começou o encontro com umas conferências contextualizantes na sexta-feira, por cada um dos instrutores. Depois, ao longo da manhã e tarde do sábado e manhã do domingo, apresentaram-nos em forma prática a sua compreensão de como Fiore Furlano, Pietro Monte e Philippo Vadi compreendiam técnicas comparáveis.

O interessante do assunto foi o foco colocado na evolução das espadas nesse período: das armas de menos de 120 cm de Fiore, às «espadas muito longas» de Monte (~140cm), até os spadoncinos de Vadi (já chegando quase ao tamanho do montante). Ao analisar a forma em que autores relativamente próximos no espaço e no tempo as utilizaram, pudemos ver como as mudanças de peso e tamanho em cada ferramenta obrigam a adaptar postura, movimento e manuseio.

Obviamente as jornadas completaram-se com abundância de assaltos livres. Não sempre é fácil encontrar espaços nos que fazer uma esgrima técnica e segura como a que trabalha a gente da Palestra Pedro Monte, e por isso extenuamos as possibilidades de o fazer aqui.

Como o encontro decorreu no próprio espaço da Palestra, em todo momento tivemos todo o tipo de brinquedos disponíveis. Além disto, notava-se a gente da escola descontraída e confortável — como se estiverem na sua própria casa, que era em efeito o que acontecia.

Este ambiente de tranquilidade, comunidade e familiaridade é algo que eu pessoalmente valoro muitíssimo de partilhar tempo com os nossos camaradas de Granada. O seu projeto técnico é muito interessante — mas o projeto humano que o sustenta é um autêntico fito no mundo das HEMA. Esta equipa não tem medo de se envolver socialmente e construir comunidade — e isto não tem preço.

Venham muitos mais anos, companheiros.

 

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Proposta: Encontros Antiendogámicos

O passado 30 de novembro fizemos um encontro nas instalações da AdC de Compostela aberto a vários clubes da comunidade galega para fazer, exclusivamente, assaltos livres. Chamamo-lo «Encontro Antiendogámico», nome roubado da imaginação desbordante de Diego Conde.

Foi breve (uma manhã dum sábado), levou bastante pouco trabalho e resultou satisfatório, e em consequência vou repetir o modelo.

Penso que é importante que os da AdC não sejam os únicos encontros deste tipo, e penso também que cada grupo deve dar-lhes o seu caráter particular.

A minha ideia com este texto é animar-vos ao resto das salas galegas para fazer os vossos prórios encontros antiendogámicos de assaltos livres, e transformar assim «antiendogámico» de nome em adjectivo que qualifique o vosso encontro específico.

Conceito

Um encontro antiendogámico, como eu o defino, consiste em proporcionar uma data e um espaço para:

  • Encontrar gente doutras salas.
  • Experimentar.1
  • Comparar notas, técnica, ideias, equipamento e demais.

Interessa-me fazer este tipo de encontros cada 3 ou 4 meses. Portanto deve requerer trabalho mínimo: solicitar o espaço, comunicar com os clubes, definir o tipo de esgrima que quero para o encontro, e vigilá-la o próprio dia. Mais nada (e não é pouco).

Então:

  • Consiste exclusivamente em assaltos livres e atividade improvisada: nem aulas, nem competição séria,2 nem atividade ordenada.
  • O público gere-se a si próprio. Não se proporciona seguro. Cada quem deve trazer a sua água, fruta ou o que for. Não se organiza uma comida depois.
  • É um evento por convite, não aberto. A ideia não é excluir, mas sim ajustar o tipo de esgrima que vai acontecer no teu evento aos teus interesses.

Estes pontos simplificam enormemente a comunicação e a gestão. Ao não ter programa, não há que organizar um horário de atividades, instrutores, etc. Ao não ter que gerir inscrições nem número de pessoas, não há que se preocupar por refeições nem reservas para jantares, etc.

Ao ser só por convite, embora não tenhas que fazer um programa, estás a seleccionar o tipo de clubes participantes. Isso permite-te modular o tipo de esgrima que queres ver no encontro.

E ao convidar por clube, e não individualmente, minimiza-se o número de interlocutores para organizar o encontro.

Recomendações

Define o tipo de esgrima que queres ver. Eu aposto por jogo livre com proteções minimalistas, trabalho técnico e muito controlo. Outro clube pode querer assaltos atléticos e proteções pesadas. Outro pode achar interessante fazer uma esgrima de exibição de regras/katas …sei lá: estou a inventar sobre a marcha. O tema é que não todos têm por quê ser iguais, mas é importante comunicares com clareza a esgrima que queres ver no encontro, para a gente saber o que aguardar. (Eu não comuniquei bem isto na edição primeira, por exemplo).

Convida gente (grupos, clubes, escolas) que faça a esgrima que queres ver, sobre todo nas primeiras edições. Ainda que isto parece que vai em contra da antiendogámia, serve para estabelecer a cultura do teu encontro. Quando tenhas um grupo habitual de clubes mais ou menos na mesma sintonia, podes acrescentar outros. Desta forma abres cada vez mais o evento, mas manténs o espírito.

Não tenhas medo em mudar de rumo. Após fazer uma ou várias edições podes encontrar cousas que queres mudar, ou fazer melhor: muda-as. Todo está sujeito a mudança. Do que se trata é de desenvolver a atividade da forma em que aches proveitosa, e de proporcionar espaços diversos para a nossa comunidade se encontrar.

A variedade é proveitosa

Estas são as minhas recomendações, viradas para simplificar a minha vida no máximo possível, e assim repetir este encontro com regularidade. Como imagino que também sodes pessoas ocupadas, imagino também que vos resultarám úteis.

Se tendes dúvidas a respeito da viabilidade dum encontro organizado sem, por exemplo, levar uma inscrição das pessoas participantes… Vinde a um dos nossos, e comprovai empiricamente que funciona. Tendemos sempre a criar mais burocracia da necessária.

Porém, cada quem é livre de fazer o que lhe preste na sua casa, obviamente. Longe de mim impor o meu modelo a toda a comunidade.

Em particular, pareceria-me interessante para outros clubes ou salas organizarem encontros com caraterísticas diferenciadas. Por exemplo, se os encontros da Arte do Combate favorecem uma esgrima com proteções mínimas, seria ótimo se outro clube organizasse um encontro mais virado para o uso de proteções pesadas.

Também seria de proveito, penso, coordenar-nos. A minha vontade é fazer um encontro deste tipo cada 3 – 4 meses. O ideal é que outros encontros aconteçam no meio, e não nos contra programar.

 

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Crónica: «Tertúlia Galego-Portuguesa 2023»

Nesta passada fim de semana (e estamos a ter umas semanas ativas) tivemos o prazer de hospedar a Tertúlia Galego-Portuguesa de Artes Marciais Históricas — um encontro entre grupos atlânticos que vem já desde 2015.

Participaram a Academia de Esgrima Histórica (Lisboa), a Academia da Espada (Corunha) e a Arte do Combate (Compostela), juntando um total de 25 – 30 pessoas para dous dias de convívio e partilha de impressões e conhecimentos teóricos e práticos.

Começamos o sábado com uma aula de montante segundo Godinho ministrada por Xosé Castro…

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…a que seguiu uma introdução à spada a due mani de Marozzo por Eduardo Varela…

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…e outra à luta corpo a corpo — abrazzare — de Fiore Furlano, dirigida por Filipe Martins.

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Finalizamos a jornada visitando as duplas espadas (por Xosé)…

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…e a rodela (por Edu) de Godinho, com assaltos livres a continuação.

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Na tardinha e noite fomos fazer uma ceia de convívio, e dar um passeio por alguns dos pontos medievais, barrocos e mais contemporâneos da cidade.

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O domingo de manhã ocupou-se com uma introdução aos aspetos mais caraterísticos da espada longa de Liechtenauer, em interpretação de Diniz Cabreira…

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…e finalizou com o exame de instrutor de João Oliveira, que com precisão e eficiência mostrou os fundamentos da luta com adaga e sem ela segundo Fiore Furlano, bem como outros aspetos mais gerais da arte do mesmo. Parabéns!

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Temos que agradecer ao Nós Diário a cobertura mediática, e a Larpeiría polo suporte gastronómico na forma de sandes de jamom assado.

 

Não pudo faltar o Pão de Talhoffer, que sabemos imprescindível para qualquer treino respeitoso com as palavras dos velhos mestres.

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Em conjunto, achamos a experiência enormemente produtiva e satisfatória, e já ficamos combinados para arranjar o seguinte encontro.

Venham mais!

 

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Crónica: «Retorno a la Espada 2023»

A fim de semana passada, uma pequeninha delegação da AdC tivemos o privilégio de nos chegar até o #retornoalaespada2023 — o encontro de esgrima histórica organizado pola Sala de armas “Pedro del Monte”.

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Temos, em primeiro lugar, que agradecer a enorme generosidade e trabalho que fizeram. O encontro esteve muito bem organizado — cumprindo os tempos previstos, com informação em todo momento a respeito dos lugares e atividades, requerimentos e normas, etc. Mas a organização foi além da profissionalidade, abrindo as portas da que, em verdade, é a sua casa, para morarmos nela durante quatro dias. As comidas, o ócio, os risos e a companhia de Golfa e Monte não têm preço.

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Tampouco tem preço a atmosfera criada e promovida: um espaço inclusivo, explicitamente discriminador das atitudes discriminadoras, gentil e ao tempo informal. Uma atitude progressista e aberta, onde há clara consciência de que estudamos artes perigosas, e a brincar com barras de ferro, e que portanto a prioridade deve ser o cuidado e bem-estar mútuo das pessoas que aí estamos.

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A consequência imediata disto é que a gente da sala Pedro del Monte — e, através dela, toda a visitante também — procura praticar uma esgrima altamente técnica, cuidadosa, conservadora da integridade própria, com movimentos controlados e precisos. Uma beleza de ver. Um estilo que, ademais, permite desenvolver ações delicadas, como certo trabalho corpo a corpo, que doutra forma resultariam perigosas demais; ou trabalhar com um sistema de proteções mínimo, em benefício da destreza (e para alívio do calor, que lá não falta).

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Tivemos oportunidade de gozar desta experiência, em condições privilegiadas, a manhã da sexta feira, off-event, na própria sala física de Pedro e os seus camaradas — e qué sala! Que inveja poder contar com um espaço assim! –, fazendo uma sessão de trabalho e posta em comum, e uns assaltos livres. Já na tarde fomos atender as conferências, das que vou assinalar a de Manuel ValleOrtiz, diretor da AGEA Editora, porque o resto delas foram ministradas polos mesmos nomes que os obradoiros do sábado.

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Já o sábado, metidos nos workshops: a aula do Federico Malagutti – Martial Artist, Fencer, YouTuber resultou uma experiência educativa. Não atendemos, mas falam-nos muito bem do seminário de Gala MolBal — sim fomos testemunhos da destreza (e Destreza) que despregou nos jogos de armas da noite do sábado, resultando imbatível. A exploração da luta desarmada de Pietro Monte, a cargo do nosso anfitrião Pedro Velasco, foi muito interessante: o corpo humano é igual através dos quilómetros e dos séculos, mas as preferências de cada mestre conformam a arte que se desenvolve. E, obviamente, sempre é um prazer ver a nossa camarada Jessica Gomes, da Velha Guarda Marcial, mostrar o seu domínio do nosso patrimonial jogo do pau galego-português.

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Já nem é necessário falar dos impresentáveis Juan Diego Conde Eguileta e Eduardo Varela, da Asociación Ourensá de Esgrima Antiga e da Academia da Espada – Coruña, respetivamente. Fizeram estragos tanto no dia como na noite, tanto brandindo a espada como fazendo twerking. Se isto é motivo para orgulhar-nos por considerá-los amigos, já é matéria de debate. ?

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Foi grato reencontrar velhas amizades que só podemos ver neste tipo de eventos — da Sala de Armas “Fiore dei Líberi” Vitoria-Gasteiz, ou da Asociación de Esgrima Histórica Ciudad de Ávila — e fazer outras novas. Levamos connosco o entusiasmo da delegação da Terra Umbría, ou a cordialidade da gente de El Arte de la Espada. Fica muita gente por listar, é claro, mas nalgum ponto há que parar.

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Em resumo — «Retorno a la Espada 2023» resultou um evento excelente, e está na nossa agenda para voltar. Ao tempo, o trabalho da sala de armas «Pedro del Monte» pareceu-nos extremamente recomendável, e aguardamos partilhar com ela projetos no futuro.

Venham mais!

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P.S.: Quatro inspeções das forças de ocupação espanholas tivemos que passar. Quatro! Só numa delas nos fizeram deter o carro, entregar os documentos e baixar dele. Quando o agente começa a apalpar as sacas e a perguntar «¿Aqui hay armas?», a resposta de «Sólo espadas, señor agente» foi, tristemente, suficiente. Não pudemos evangelizar a palavra de Liechtenauer como gostaríamos…

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