→ Esta é uma tradução parcial, autorizada e adaptada do artigo How to train with beginners, do Guy Windsor. O texto original é mais longo mas também mais específico da sua School of the Sword, e das experiências pessoais do próprio Guy. Porém, a parte central que aqui recolho resulta de aplicação para qualquer pessoa que trabalhe com gente menos experimentada na Kunst des Fechtens, motivo polo que fica como documentação para o estudantado da Arte do Combate.
[Este texto] reflexiona acerca de como o estudantado com maior experiência pode utilizar as pessoas novas que se incorporam às aulas para treinar de modo eficiente em proveito de ambas partes. […]
- Deves ser um modelo perfeito. A regra das pessoas iniciantes é esta: mostra a técnica certa mil vezes, e acabarão por copiar corretamente. Mostra a técnica errada uma vez, e copiarão perfeitamente nessa primeira vez. Digo isto sem desrespeito. É simplesmente uma verdade, e nunca vi uma pessoa iniciante para quem não fosse assim. Portanto, ter iniciantes perto exige que todas as tuas ações sejam tão perfeitas quanto for possível.
- Trabalha ao teu próprio nível. Uma das cousas que as pessoas iniciantes precisam aprender é a terminologia da Arte. Com elas fazemos cousas como chamar os nomes dos deslocamentos (reto, estranho, passo, compasso, etc.) para responderem com o movimento correspondente. Para o estudantado mais experiente na mesma turma, isto pode parecer miseravelmente tedioso, mas não deveria: espera-se que trabalhe no seu próprio nível. Assim, enquanto toda a aula está a fazer a mesma atividade, algumas pessoas trabalham em lembrar os termos; outras no aperfeiçoamento da sua mecânica; e algumas em possíveis aplicações, desde geração de energia, defesas, ou aplicações técnicas específicas.1
- Aproveita o caos. Em exercícios de pares, a pessoa menos experimentada naturalmente cometerá erros. Excelente. Uma verdadeira fonte de caos! O ataque pode ser forte demais, estar muito longe ou muito perto, na linha errada… qualquer cousa. O teu trabalho é adaptar sem esforço e espontaneamente o exercício às condições específicas do ataque que recebes, não ao que esperavas. Isto exige o 100% do foco no que acontece. Quando for a tua vez de fazer o ataque deverás demonstrá-lo perfeitamente (conforme o exercício, como é óbvio). Desta forma teu treino alterna entre escolhas táticas 100% perfeitas em tempo real e mecânicas 100% perfeitas no teu próprio tempo. Parece um exercício 100% perfeito, não é?
É bom também teres presente que:
- O ataque que recebes nunca é «errado»: só te atingem se falhas na defesa.
- A tua correção da forma em que a outra pessoa executou o ataque será muito mais convincente se ocorre após teres sucesso na defesa, do que se vem depois de o ataque «errado» atingir-te.
- Educa modelando, não explicando. As pessoas iniciantes não são estúpidas: apenas ainda não receberam o mesmo treino que ti. Precisam de oportunidades para praticar, não duma palestra.
- Este tipo de treino exige 100% de foco nas especificidades do ataque que recebes, não no que esperas.
- Ao treinar com iniciantes, recebes a oportunidade de trabalhar «em profundidade», melhorando a forma em que executas algumas ações. Por contra, nesse treino terás menor oportunidade de trabalhar «ao largo», usando uma maior gama de ações (porque isso vai confundir a pessoa iniciante, já de seu sobrecarregada). Quando emparelhes com estudantes com mais experiência é que poderás trabalhar «ao largo», sempre que isso não entre em conflito com os objetivos gerais da aula.
Por estes motivos, deves aprender a apreciar o influxo de novos geradores de ações aleatórias que exigem a tua perfeição. Tem presente também que, numa década ou duas, essas pessoas podem ser muito melhores na Arte do que ti és agora. Mas sempre lembrarão e sentirão gratitude pola ajuda que lhes deste quando começavam. Podes estar a ajudar a treinar o próximo Bruce Lee, ou Aldo Nadi, ou mesmo Johannes Liechtenauer!
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