«Cauda do meu elmo de bisso ourivi…»

«Hoje aprendi…»

…Que o bisso, ou «seda do mar», é um tecido antigo semelhante a um linho muito fino ou seda fabricado com as barbas dos moluscos, e que se for tratado devidamente com especiarias e suco de limão, brilha dourado ao sol.

Segundo Álvaro Cunqueiro, os cavaleiros galegos faziam as penas dos bascinetes dele:

O freixo está teste prá lança lavrar,
e o palafrém1 teixo venho de ferrar!

» Se ao maio vás2,
farás-me chorar…»

Cauda do meu elmo de bisso ouriví3:
o ar do maio nasceu para ti!

» Se ao maio vás,
farás-me chorar…»

Senhores farfãs4 da boa ventura!
Ameaça-nos Deus na cavalgadura!

» Se ao maio vás,
farás-me chorar!
O linho alvar5 não espadarei6,
de fio de sangue panos tecerei!»

— Cunqueiro,
em Dona do Corpo Delgado.

Referências

 

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Notas

  1. «palafrém»: o cavalo de descanso do cavaleiro, em oposição ao corcel, cavalo de guerra.
  2. «ir ao maio»: ir à guerra contra os mouros, que começava tradicionalmente na primavera – ver «O que da guerra levou cavaleiros / e a sa terra foi guardar dinheiros, / nom vem al maio», a cantiga do meu tocaio D. Diniz.
  3. «ouriví»: de ouro, dourado, de cor dourada (cf. ourive, ourivesaria).
  4. «farfãs»: mercenários (=«de boa ventura») cristãos que lutavam do bando dos mouros
  5. «alvar»: branco, ou quase branco.
  6. «espadar»: bater com a espadela, para separá-las fibras de linho da parte dura (os «tormentos»).