«Hoje aprendi…»
…Que o bisso, ou «seda do mar», é um tecido antigo semelhante a um linho muito fino ou seda fabricado com as barbas dos moluscos, e que se for tratado devidamente com especiarias e suco de limão, brilha dourado ao sol.
Segundo Álvaro Cunqueiro, os cavaleiros galegos faziam as penas dos bascinetes dele:
O freixo está teste prá lança lavrar,
e o palafrém1 teixo venho de ferrar!» Se ao maio vás2,
farás-me chorar…»Cauda do meu elmo de bisso ouriví3:
o ar do maio nasceu para ti!» Se ao maio vás,
farás-me chorar…»Senhores farfãs4 da boa ventura!
Ameaça-nos Deus na cavalgadura!» Se ao maio vás,
farás-me chorar!
O linho alvar5 não espadarei6,
de fio de sangue panos tecerei!»
— Cunqueiro,
em Dona do Corpo Delgado.
Referências
- O bisso: a seda natural marinha produzida apenas por uma mulher no mundo
- Galipedia: Biso
- Wikipedia: Sea silk
Notas
- «palafrém»: o cavalo de descanso do cavaleiro, em oposição ao corcel, cavalo de guerra.
- «ir ao maio»: ir à guerra contra os mouros, que começava tradicionalmente na primavera – ver «O que da guerra levou cavaleiros / e a sa terra foi guardar dinheiros, / nom vem al maio», a cantiga do meu tocaio D. Diniz.
- «ouriví»: de ouro, dourado, de cor dourada (cf. ourive, ourivesaria).
- «farfãs»: mercenários (=«de boa ventura») cristãos que lutavam do bando dos mouros
- «alvar»: branco, ou quase branco.
- «espadar»: bater com a espadela, para separá-las fibras de linho da parte dura (os «tormentos»).