Conduta nas escolas de esgrima segundo Christoff Rösener

→ O poema «O Conto da Esgrima» («Bericht vom Fechten»), de 1579, narra longamente uma conversa entre o narrador e um estudante de esgrima que vai caminho de Frankfurt para tomar o exame de Mestre da Espada de mão dos Marxbrüder.

Ao longo do poema o estudante conta a história da Arte — presentada como criação de Hércules no monte Olimpo —, aperfeiçoada polo Império Romano e os povos germânicos e, em certa forma, domesticada através dos séculos para afastá-la das carniçarias do campo da batalha e virá-la uma atividade nobre e aceitável socialmente, até culminar nas Fechtschüle — os encontros lúdicos e competitivos burgueses do século XVI. Fala no processo da história dos Marxbrüder, e mais dos seus rivais os Federfechter, e dá uma mostra bem interessante da rivalidade que existia entre ambos (o narrador proclama, num ponto, que vai «dar cuteladas até fazer cair as penas» do esgrimista Federfechter, e depois «varrer o chão com ele»).

O Poema é longo e, além da história e dos conflitos entre grémios, lista também várias técnicas duma versão serôdia da tradição de Liechtenauer. Contra o final do poema descreve as normas de comportamento que se aguardam de quem estuda e pratica a Arte. Achei esta parte interessante por quanto adianta alguns pontos de segurança que ainda aplicamos hoje (não levar nenhum fecho nem peça de metal no equipamento defensivo, por exemplo) e destaca uma atitude de respeito na escola não muito diferente do Código de Conduta que usamos na Arte do Combate:

AS NORMAS DA ESCOLA
Fragmento do poema
O CONTO DA ESGRIMA
por Christoff Rösener, 1579;
em livre tradução de Diniz Cabreira, 2021.

A vergonha maior na esgrima
é estudar sem disciplina:
Deves treinar o que sabes
e ir às aulas com vontade.

Saúda estudantes e mestre
e, nos torneios da escola,
não convides estranha gente.
Devem passar a prova:
três assaltos contra o mestre.
E depois, que o torneio comece!

Sem metal nenhum na roupa,
nem adaga na cadeira,
com cabeça descoberta.

Não deixes cair a arma, segura nela!
Nem caias ti tampouco: sempre alerta!

E não andes a bater às toas.
Conduz-te com boas formas:
não deves fazer burlas.

Fica proibido nos treinos
atacar até fazer sangue
no momento do combate.

Se virem visitantes
deves mostrar respeito
e não fazer desprezo.
Por contra, um par de assaltos
combate polo loureiro.

Vem! Junta-te à dança logo!
Sente a admiração do povo
por mestres e estudantes!

Se as normas não aceitas
afasta-te da Fechtschule,
estudantes, e escola inteira!

Não merecemos pior companhia
da que estas lições ensinam:
que a Arte seja orgulho e honra!

E chego ao final, cumprido o dever
de explicar estas normas.

— Christoff Rösener,
Mestre da Espada, 1579.

 

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