Preparativos para um duelo, por Talhoffer (2)

Hans Talhoffer (1410/15 — 1482+) foi, entre outras cousas, mestre da arte do combate para nobres que se viram na obriga de se bater em duelo.

«Aqui o Mestre Hans Talhoffer» — MS_Thott.290.2º_101vNão temos certeza do seu vínculo com a tradição de Liechtenauer. Há algumas lições semelhantes, mas muitas discordantes, e está ausente o que carateriza aos discípulos do Alto Mestre: a Zettel comentada. Por contra, Talhoffer escreveu a sua própria Zettel, com alguns versos semelhantes e muitos diferentes. Isto pudera ser indicativo de plágio ou, mais provavelmente, que ambos mestres beberam duma tradição comum.

Os tratados de Talhoffer são geralmente muito gráficos, com pouco texto, e têm o propósito explícito de serem referências técnicas para os seus estudantes, mas também é evidente que pretendem reforçar e assentar a necessidade do seu ofício. As partes textuais, porém, oferecem uma interessantíssima visão a respeito do duelo, e de como alguém que ganhava a vida com ele transmitia essa cultura ao seu estudantado.

Podes consultar mais fragmentos traduzidos da sua obra neste blogue, sob o tag Talhoffer.

Para trunfares no combate:
move-te,1 não descanses2.
Luta se a luta é precisa
e ri se é preciso rir3.
Confia na Arte da Espada
que Talhoffer ensinava,
e não te levem a engano
lições de mestres estranhos.4 5

Eis o segredo da Arte Verdadeira segundo os mestres, em forma fácil de entender, e deve ser guardada com zelo, e é proveitosa, e fica aqui exposta em bom fundamento.6

Quando queiras combater pola vida7 com alguém, deves em primeiro lugar arranjar sítio e data. Depois, equipa-te com quanto material vaias necessitar, e deves fazer isto pessoalmente, e em secreto — não fies em ninguém o que vás fazer, ou quais são as tuas intenções, porque o mundo está cheio de falsidade —, e deves prover-te dumas boas luvas,8 espada e perponto, calças e qualquer outra cousa que pretendas usar. E observa bem que este equipamento seja confortável e adequado, e que atenda à tua preferência,  porque a espada não atende a outra razão que ela mesma, e quer ser livre.9

Quando chegues ao lugar do duelo10 e queiras começar, deixa que a outra parte diga e faça quanta cousa queira, e não afastes a tua vista dela,11 e concentra-te,12 e diga o que diga, não te deixes provocar, e combate com zelo13 pola própria vida, e não lhe permitas descanso, e segue e confia na Arte.14

Não temas os seus ataques e, se te combate a sério, lembra o Zucken para burlar-lhos.15

Hans Talhoffer, homem honrado,16 pode dar fé da verdade disto, porque muitas vezes se viu nesta mesma situação.

—Talhoffer, MS Thott.290.2º, S.XV,
em livre tradução de Diniz Cabreira.

 

 

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Preparativos para um duelo, por Talhoffer (1)

Hans Talhoffer (1410/15 — 1482+) foi, entre outras cousas, mestre da arte do combate para nobres que se viram na obriga de se bater em duelo.

«Aqui o Mestre Hans Talhoffer» — MS_Thott.290.2º_101vNão temos certeza do seu vínculo com a tradição de Liechtenauer. Há algumas lições semelhantes, mas muitas discordantes, e está ausente o que carateriza aos discípulos do Alto Mestre: a Zettel comentada. Por contra, Talhoffer escreveu a sua própria Zettel, com alguns versos semelhantes e muitos diferentes. Isto pudera ser indicativo de plágio ou, mais provavelmente, que ambos mestres beberam duma tradição comum.

Os tratados de Talhoffer são geralmente muito gráficos, com pouco texto, e têm o propósito explícito de serem referências técnicas para os seus estudantes, mas também é evidente que pretendem reforçar e assentar a necessidade do seu ofício. As partes textuais, porém, oferecem uma interessantíssima visão a respeito do duelo, e de como alguém que ganhava a vida com ele transmitia essa cultura ao seu estudantado.

Podes consultar mais fragmentos traduzidos da sua obra neste blogue, sob o tag Talhoffer.

Se és nobre e te vês na obriga de te bater em duelo, deves contratar um mestre que te prepare para o combate. Deves fazer que o mestre jure ensina fielmente a sua arte, e que não vai partilhar com outras pessoas os secretos que a ti ensine.

Deves ter cautela e não cair num excesso de confiança que te leve a fachendear1 por aí dos teus secretos, para evitar traições.2

Deves acordar cedo todos os dias, ir à missa, voltar à casa e almoçar3 um pedaço de pão feito de mel e alfarrobas,4 treinar esforçadamente durante duas horas, comer pouca graxa,5 praticar duas horas mais na tarde e à noite cear6 um pedaço de pão de centeio molhado em água fresca porque melhora o folgo e alarga o peito.7

E chegado o momento do duelo, deves ir até à cidade que melhor aches, e solicitar acolhimento e proteção, e escolta para ti e a gente que te acompanhe.

E o teu mestre deve levar-te até um lugar recolhido, onde te ajoelharás e pedirás a Deus a graça de ter fortuna e vitória.

—Talhoffer, Königsegg Fechtbuch, S.XV,
em livre tradução de Diniz Cabreira.

 

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Recursos

A Zettel de Talhoffer

→ O Königsegg Fechtbuch é um dos vários textos a recolher ensinamentos de Hans Talhoffer. Na forma habitual deste mestre, trata-se dum conjunto de imagens com textos muito breves ou sem eles, mas en duas páginas do princípio traz várias reflexões acerca das cautelas que deve tomar a pessoa que se vai bater em duelo, e também um poema, que aqui reproduzimos.

Um dos pontos interessantes deste poema (além do conteúdo) é o seu início que remete à famosa Zettel de Johannes Liechtenauer. Pudera ser que Talhoffer estivesse iniciado na Arte de Liechtenauer, ou bem que este para compor o seu poema tirasse duma estrutura popular na época, ou mesmo duma tradição existente de poemas mnemotécnicos para ensinar a combater. Isto seria compatível com a visão que presenta o 3227a dum Johannes que «viajou e pesquisou por muitas terras, pois queria aprender a Arte», mas que «não inventou o que aqui está escrito, que já existia há centos de anos».

[A imagem de cabeçalho tem propósito meramente ilustrativo e provém do MS Thott.290.2º, não do Königsegg, porque queria algo a mostrar texto.]

Jovem, aprende
a amar justiça e gente.1

Como corresponde, tem coragem
e guarda-te de que te enganem.2

Ambiciona a inteireza
e esforça-te com dureza
na prática cavaleiresca:

Lança e move pedras,
aprende dança e salta,
luta sem armas,
combate com elas3,
rompe lanças nos torneios
e procura amores belos.4

Para combater necessitas,
como para viver, alegria.
Não aprenderás com medo
da Arte nenhum segredo.5

Deves mostrar coragem
contra quem te ataque.

Para honrar a tua dignidade
leva em bandeira a verdade.6

Desconfia do mal da gente
que a lealdade não entende.

Isto que digo é guia
para militar na justiça.7

Se recebes conselhos, aviso:
considera-os com tino
para poderes dizer
se farão mais mal que bem.8

Talhoffer insiste nisto,
os verdadeiros princípios:

Deves observar-te,
para lutar ou combater.9

Lembra os secretos da Arte;
não acredites em qualquer.

Como um urso põe-te
sem saltar perto e longe.10

A tua força usa
sempre na medida justa.

Estuda com esmero
e olha para este texto
com suficiente frequência,
para servir de referência.

E a partir deste ponto vai aprender Leutold von Königsegg a arte de Combater de mão de Hans Tafhoffer.

—Talhoffer, Königsegg Fechtbuch, S.XV,
em livre tradução de Diniz Cabreira.

 

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Conduta nas escolas de esgrima segundo Christoff Rösener

→ O poema «O Conto da Esgrima» («Bericht vom Fechten»), de 1579, narra longamente uma conversa entre o narrador e um estudante de esgrima que vai caminho de Frankfurt para tomar o exame de Mestre da Espada de mão dos Marxbrüder.

Ao longo do poema o estudante conta a história da Arte — presentada como criação de Hércules no monte Olimpo —, aperfeiçoada polo Império Romano e os povos germânicos e, em certa forma, domesticada através dos séculos para afastá-la das carniçarias do campo da batalha e virá-la uma atividade nobre e aceitável socialmente, até culminar nas Fechtschüle — os encontros lúdicos e competitivos burgueses do século XVI. Fala no processo da história dos Marxbrüder, e mais dos seus rivais os Federfechter, e dá uma mostra bem interessante da rivalidade que existia entre ambos (o narrador proclama, num ponto, que vai «dar cuteladas até fazer cair as penas» do esgrimista Federfechter, e depois «varrer o chão com ele»).

O Poema é longo e, além da história e dos conflitos entre grémios, lista também várias técnicas duma versão serôdia da tradição de Liechtenauer. Contra o final do poema descreve as normas de comportamento que se aguardam de quem estuda e pratica a Arte. Achei esta parte interessante por quanto adianta alguns pontos de segurança que ainda aplicamos hoje (não levar nenhum fecho nem peça de metal no equipamento defensivo, por exemplo) e destaca uma atitude de respeito na escola não muito diferente do Código de Conduta que usamos na Arte do Combate:

AS NORMAS DA ESCOLA
Fragmento do poema
O CONTO DA ESGRIMA
por Christoff Rösener, 1579;
em livre tradução de Diniz Cabreira, 2021.

A vergonha maior na esgrima
é estudar sem disciplina:
Deves treinar o que sabes
e ir às aulas com vontade.

Saúda estudantes e mestre
e, nos torneios da escola,
não convides estranha gente.
Devem passar a prova:
três assaltos contra o mestre.
E depois, que o torneio comece!

Sem metal nenhum na roupa,
nem adaga na cadeira,
com cabeça descoberta.

Não deixes cair a arma, segura nela!
Nem caias ti tampouco: sempre alerta!

E não andes a bater às toas.
Conduz-te com boas formas:
não deves fazer burlas.

Fica proibido nos treinos
atacar até fazer sangue
no momento do combate.

Se virem visitantes
deves mostrar respeito
e não fazer desprezo.
Por contra, um par de assaltos
combate polo loureiro.

Vem! Junta-te à dança logo!
Sente a admiração do povo
por mestres e estudantes!

Se as normas não aceitas
afasta-te da Fechtschule,
estudantes, e escola inteira!

Não merecemos pior companhia
da que estas lições ensinam:
que a Arte seja orgulho e honra!

E chego ao final, cumprido o dever
de explicar estas normas.

— Christoff Rösener,
Mestre da Espada, 1579.

 

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Regulamento de Esgrima da Cidade Velha de Praga, 1597

→ Esta é uma versão autorizada dum artigo de Ondřej Vodička titulado 1597, Fencers’ Ordinance of the Old Town of Prague, traduzido por Diniz Cabreira (2021). Entre colchetes [] vão anotações à tradução do texto original feitas por Ondřej, e com números e em notas ao pé clarificações e comentários pola minha parte.

No 28 de julho de 1597, o concelho da Cidade Velha de Praga promulgou o Regulamento dos Esgrimistas a fim de impor a disciplina nos torneios de esgrima (Fechtschule) e controlar os esgrimistas domésticos e errantes.

Realizar um torneio de esgrima na Cidade Velha tradicionalmente era responsabilidade e direito do grémio dos cuteleiros. No entanto, este costume provavelmente estava em declínio desde que o grémio dos Federfechter de Praga surgiu nos anos setenta do século XVI. Os membros desta irmandade combatiam principalmente com espada roupeira, e para ganhar o título de «mestre da espada longa» deviam combater contra um membro da famosa irmandade de São Marcos (Marxbrüder) com sé em Frankfurt, que recebera o monopólio imperial sobre a distribuição destes títulos.

O documento original não sobreviveu. No entanto, o texto foi copiado num dos livros administrativos do concelho da Cidade Velha. O livro foi chamado Kniha pořádkův [O Livro dos Regulamentos] e incorporou cópias de normas selecionadas datadas entre 1476 – 1715. O Livro dos Regulamentos foi infelizmente queimado durante o bombardeio de Praga em 8 de maio de 1945. O texto deste regulamento sobreviveu apenas como um apêndice da publicação Pražští šermíři a mistři šermu [Esgrimistas e mestres de esgrima de Praga] de 1927, da autoria dum esgrimista e historiador de esgrima Jaroslav Tuček (1882 – ca. 1940?).

Vista de Praga por Václav Hollar em 1636.
Original na Galeria Nacional Checa de Praga. Esta cópia da Wikimedia Commons.

Tradução seletiva

O concelho da Cidade Velha de Praga declara e decide que:

1) Existem preguiçosos vindo de outros lugares para Praga, que pretendem organizar torneios de esgrima e ficar ociosos, visitar pousadas e passear à noite. Isso causa muitos escândalos, brigas, feridas e assassinatos.

2) Organizar torneios de esgrima sempre esteve no poder do grémio dos cuteleiros para promover a bravura e uma esgrima viril.

3) O torneio de esgrima foi estabelecido para que os cuteleiros, que vivem uma vida honrada e humilde, possam melhorar as suas habilidades na esgrima.

4) Os esgrimistas mais velhos, eleitos para governar a sociedade de esgrima, devem ser burgueses ou habitantes de longa data da Cidade Velha de Praga e comportar-se com decência.

5) O público dum torneio de esgrima não deve perturbar os esgrimistas.

6) Os esgrimistas que organizam os torneios de esgrima, e em fazendo isso têm poucos rendimentos, devem receber uma quantia justa de dinheiro da taxa cobrada por participar no torneio, para estarem mais dispostos a organizá-lo.

7) Todo esgrimista, seja Federfechter ou Marxbruder, e especialmente os membros dos grémios, que não são preguiçosos, devem ser inscritos num registo especial.

8) Federfechter e Marxbrüder devem juntar-se para organizar um torneio de esgrima todos os domingos e dias feriados.

9) Quem quiser organizar um torneio de esgrima deve perguntar com antecedência aos cuteleiros mais velhos, para poderem acompanhar e endossá-lo perante o Concelho.

10) Atenção especial deve ser dada à reputação do organizador de um torneio de esgrima, para que não seja nem um preguiçoso, nem um causador de problemas, mas um artesão decente.

11) Se houver um desocupado querendo participar de um torneio de esgrima com o propósito apenas de se exibir [«agir como um pavão»] e ganhar dinheiro e viver disso, essa pessoa não deve  ser permitida de fazer parte do torneio.

12) Um torneio de esgrima requer as armas usuais de madeira, como Dussacks, bastões e alabardas, bem como as armas de aço, como espadas1 e roupeiras. Estas armas devem ser mantidas prontas em número suficiente polo grémio dos cuteleiros, com obriga de emprestá-las a quem organize um torneio de esgrima. Se uma arma for danificada ou quebrada durante o torneio, os cuteleiros farão uma nova.

13) Por esse motivo, qualquer pessoa que organizar um torneio de esgrima deve pagar ao grémio dos cuteleiros a taxa indicada de sessenta de Meissner groschen.2 No caso de quebra de uma espada ou roupeira durante o torneio, o organizador paga ao grémio mais trinta kreuzers por fazer uma nova espada e vinte por uma roupeira, porém não há tal pagamento se quebrar uma arma de madeira.

14) Geralmente as pessoas que atendem o torneio são boas e honestas, e até mesmo nobres. É estritamente proibido ao público entrar no meio dos duelos, pois, por ignorar esta regra, muitas pessoas foram feridas ou ficaram cegas. Se alguém infringir esta regra e tiver formação em esgrima, terá proibido participar em torneios por um tempo; se não souber esgrima, essa pessoa será levada perante o Concelho e punida por este.

15) «Há esgrimistas covardes a usarem luvas longas até o côvado, em contra das antigas tradições. Isto fica desde este momento proibido. Quem participar no torneio deve levar luvas a cobrir apenas a mão, para que ninguém descanse a sua esgrima em luvas longas até o côvado.3

16) Ninguém deve ter permissão para participar de um torneio a menos que tenha recebido instrução adequada em esgrima.

17) Quando os esgrimistas fecham a distância não devem se lançar uns contra os outros com raiva, mas devem combater «limpa e longamente» conforme a tradição, sem importar a arma que empunhem.

18) Mestres e estudantes devem agir com solenidade e respeito durante o torneio, sem fazer parvadas4 como sacudir a cabeça ou botar a língua fora.

19) Mestres e estudantes de esgrima devem ficar afastados durante o torneio, Marxbrüder de um lado e Federfechter do lado oposto, para que as pessoas os reconheçam facilmente. Não devem obstruir nem «ficar juntos como gansos» no campo de duelo e, assim, bloquear a visão.

20) Todo esgrimista é obrigado a iniciar o duelo conforme a tradição, ao contrário do labrego, que corre loucamente em busca de uma arma, agarra-a e quer bater com ela como um boi estúpido.

21) Ninguém não autorizado e que não for combater deve entrar no campo de duelo, obstruir os esgrimistas, dar sermões ou se colocar entre eles. Tal comportamento será castigado a golpes.

22) Acontece também que labregos e jornaleiros assobiam e gritam para os esgrimistas, como se fossem uns tolos. Tal comportamento será castigado pelo organizador, seja com prisão ou a golpes.

23) Há esgrimistas que não querem combater no torneio, exceto se é em troca dum prémio em dinheiro. Esta gente tende a berrar a nobres e burgueses, incitando-os a pagar um dinheiro polo qual deveriam lutar. No entanto, o torneio não foi estabelecido como meio de ganhar dinheiro, mas como um exercício para a mocidade. Qualquer esgrimista deve ser punido a partir de agora com uma multa por tal comportamento.

24) No entanto, é possível combater por um prémio em dinheiro, sempre que haja alguém entre o público com vontade de oferecê-lo livremente. Esse dinheiro deve ser entregue ao organizador para que posteriormente possa premiar o vencedor do duelo. O espectador que oferece o dinheiro pode escolher ele mesmo os dous esgrimistas que lutam polo prémio.

25) Esses dous combatentes não devem lançar-se um contra outro como plebeus, como se quisessem matar a outra pessoa no sítio, senão que devem agir segundo a arte própria do torneio de esgrima.

26) Também devem passar por todos os três assaltos e não terminar o duelo após o primeiro golpe quando o sangue aparecer, saindo o ganhador a correr polo dinheiro. O outro pode ter sucesso no segundo turno com um «acerto maior», pois o acerto maior é sempre mais válido do que o menor. Os combatentes devem passar por todos os três assaltos sem nenhum acordo secreto.

27) Quem combate polo prémio em dinheiro sob acordo secreto será punido com prisão e o prémio em dinheiro será confiscado pelo organizador.

28) Se um esgrimista está bêbado e o outro sóbrio, o bêbado não poderá esgrimir, pois a esgrima bêbada causa graves feridas.

29) Ninguém deve receber tratamento de mestre de esgrima e permissão para organizar um torneio, a menos que aprenda a esgrimir corretamente com cada uma das armas. Por esta razão, qualquer mestre de esgrima que organize um torneio deve resistir a um duelo até o primeiro sangue com cada uma das armas.

30) Se chover, o torneio será adiado para que o organizador não perca. O dinheiro já arrecadado deve ser usado para o bem comum.

31) Se o torneio for no domingo, deve começar na primeira hora da tarde5 e não no final da tarde, quando muitos esgrimistas já estão bêbados. Este «teatro» também pode tentar as pessoas a não irem à igreja, razão pela qual o torneio deve terminar antes das vésperas.6

32) Se um torneio for realizado numa casa, o proprietário receberá um Groschen por pessoa e deve garantir lugares adequados para sentar ou ficar em pé conforme a posição social de cada quem.

33) Também deve haver uma cerca construída ao redor do campo de duelo, para que ninguém não autorizado entre ali. Senhores e cavaleiros deveriam observar o torneio desde uma varanda.

34) Deve-se erguer uma estaca perto da cerca e uma pequena pá pendurada dela. Se alguém entrar na cerca sem autorização ou se comportar mal, levará três golpes dessa pá. Qualquer pessoa escolhida pelos anciãos ou pelo organizador do torneio para proceder ao castigo deve colaborar.

A edição em texto completo (checo) deste decreto pode ser encontrada em Jaroslav TUČEK: Pražští šermíři a mistři šermu [Esgrimistas e mestres de esgrima de Praga], Praha 1927, p. 79–94.

 

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Referências

Artigo original:

400 anos e nada muda

Em 1942, depois do ataque japonês sobre Pearl Harbour, os USA estão a livrar uma guerra no pacífico que com frequência envolve ações na floresta selvática e confrontos contra cutelos, machetes, baionetas e mesmo com espadas dos oficiais japoneses.1

Neste contexto, Frederick Ehrsam, C.E.2 escreveu um manual para a faca ou cutelo de campo LC-14-B. Este estava desenhado para o trabalho no mato, e vinha acompanhado de vários instrutivos para o seu aguçado e uso como ferramenta, mas também dum pequeno livrinho de 16 páginas titulado Fighting with U.S.A. Knife LC-14-B (The woodman’s pal).

O tipo de esgrima prescrita no texto, necessariamente superficial, tem uma clara inspiração na esgrima de sabre (como também a guarda do cutelo), adaptada. Porém, o mais interessante para nós são várias instruções de caráter geral dadas para soldados que, com probabilidade, tinham zero experiência em esgrima. De entre o conjunto destaca, na página 11:

«Feint and attack until you hit. If your attack should miss or be parried, do not stop; change the attack continuously from one point to another until successful, or until you are forced to stop.

» If any movements have missed or have been parried […keep attacking exposed openings]. The idea being that as long as you attack, the opponent must parry; if you stop attacking, he will take the initiative and force you on the defensive.»

«Executa fintas e ataques até atingires. Se o teu ataque falha ou é defendido, não te detenhas: continua o ataque mudando de um ponto para outro até teres sucesso, ou até que te vejas na obriga de parar.

» Se os teus movimentos falham ou são defendidos […continua atacando as aberturas expostas]. A ideia é que enquanto te mantiveres no ataque, a outra pessoa deve defender; se deténs o ataque, tomará a iniciativa e obrigará-te a a defender a ti.»

— Frederick Ehrsam, Fighting with U.S.A. Knife LC-14-B, 1942, p.11.
Tradução própria.

Vale comparar isto com os conselhos recolhidos no manuscrito GNM HS 3227a de ~1389 (que temos traduzido e publicado sob o título Há Uma Única Arte da Espada):

«M|Otus · das worte schone /
ist des fechtens eyn hort vnd krone /

 |der gancze mat~iaz / des fechtens / mit aller pertine~ciã / |Vnd der artikeln gar / des fundamentes / dy var / |Mit name~ sint genant / vnd werden dir hernoch bas bekant / |Wy deñe eyñ nur ficht / zo sey her mit den wol bericht / |Vnd sey stetz i~ motu / vnd nicht veyer wen her nit / |An hebt czu fechte~ / zo treibe her mit rechte / |Vm~er in vnd endlich
eyns noch dem andñ künlich / |In eyme rawsche stete / an vnderlos imediate / |Das iener nicht kome / czu slage des nympt deser frome~ / |Vnd iener schaden / |wen her nicht ungeslage~ / |Von desem kome~ mag / tut nur deser noch dem rat / |Vnd noch der leren / dy itczunt ist geschreben / |So sag ich vorwar / sich schützt iener nicht ane var / |Hastu vornome~ / czu slage mag her mit nichte komen /

¶| |Hie merke~ · das · freque~s motus · beslewst in im / begy~nis / mittel · vnd ende / alles fechtens / noch deser kunst vnd lere / |alzo das eyñ yn eyme rawsche / anhebu~ge / mittel / vnde endu~ge / an vnderlos vnd an hindernis synes wedervechters volbrenge / |vnd iene~ mit nichte lasse czu slage kome~ […]»

«Motus: esta verba formosa
é da Arte coração e coroa.

» Pois de facto é desta matéria e não doutra que trata a Arte do Combate. Todo o que esta palavra contém e os fundamentos que nela há serão logo nomeados e explicados.

» E quando fores lutar deves ter estes fundamentos em mente e permanecer em movimento, sem hesitar quando tiveres alguém diante. Deves despregar as tuas artes sem temor, com confiança e sem duvidar, num fluxo constante de ações, para não lhe dares oportunidade de atacar. E assim vás ferir a outra pessoa, que não vai poder atacar por estar ocupada na defesa. E por isto eu digo: «não há defesa sem perigo». Se entendes isto, não terá oportunidade de te ferir.

» Então, tem presente: Frequens Motus, movimento constante, está no início, meio e fim de toda briga, e assim diz esta Arte e estas lições. Deves passar pelo início, meio e fim do combate num único fluir de movimentos, sem te deteres e sem que ninguém te detenha, e sem lhe dares oportunidade de atacar.»

— Anónimo, GNMHS 3227a, ~1389 f.[16r-17v].
Transcrição por Dierk Hagdorn, na Wiktenauer.
Tradução própria.

Sempre achei os conselhos do 3227a surpreendentemente contemporâneos, semelhantes aos que daria um manual do nosso presente. Comparados com as instruções deste manual de combate de há quase um século — certamente com vontade de ser aplicadas — o porquê é evidente: Há Uma Única Arte da Espada.

 

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Causas para o duelo judicial, por Talhoffer

Hans Talhoffer (1410/15 — 1482+) foi, entre outras cousas, mestre da arte do combate para nobres que se viram na obriga de se bater em duelo.

«Aqui o Mestre Hans Talhoffer» — MS_Thott.290.2º_101vNão temos certeza do seu vínculo com a tradição de Liechtenauer. Há algumas lições semelhantes, mas muitas discordantes, e está ausente o que carateriza aos discípulos do Alto Mestre: a Zettel comentada. Por contra, Talhoffer escreveu a sua própria Zettel, com alguns versos semelhantes e muitos diferentes. Isto pudera ser indicativo de plágio ou, mais provavelmente, que ambos mestres beberam duma tradição comum.

Os tratados de Talhoffer são geralmente muito gráficos, com pouco texto, e têm o propósito explícito de serem referências técnicas para os seus estudantes, mas também é evidente que pretendem reforçar e assentar a necessidade do seu ofício. As partes textuais, porém, oferecem uma interessantíssima visão a respeito do duelo, e de como alguém que ganhava a vida com ele transmitia essa cultura ao seu estudantado.

Podes consultar mais fragmentos traduzidos da sua obra neste blogue, sob o tag Talhoffer.

«Velaqui as sete causas polas que um homem tem o dever de combater:

  • A primeira é o assassínio
  • A segunda é a traição
  • A terça é a heresia
  • A quarta é promover deslealdade contra o seu senhor
  • A quinta o sequestro
  • A sexta é o perjúrio
  • A sétima, abusar de mulher ou donzela

» E esses são os motivos pelos que um homem desafia outro a um duelo. Esse homem deve mostrar-se diante dum tribunal e apresentar o seu caso pela sua própria palavra. Deve este homem nomear a quem acusa pelo nome de batismo e apelido. Em chegado o acusado, deve o acusador repetir três vezes as acusações diante de três juízes — salvo se algum deles não aparece e não responde por si. Então deve o acusador mostrar que a sua necessidade é justa e correta. O acusado deve entender isto tudo tão bem como o acusador, e isto é importante pois vai em benefício da lei da terra. E apenas após ouvir as testemunhas deve ser emitido veredito.

» Então, quem fosse acusado deve mostrar-se diante dos três juízes para responder e defender. Deve mostrar-se livre de culpa e repetir que as acusações não são certas e que está disposto a combater por essa verdade, como permite e requer a lei da terra que pisa. Será então decretado o seu tempo para treinar, e este será de seis semanas e quatro dias. Passado esse período, deverão ambos combater, seguindo o costume e direito da terra. Ambos os contendentes devem livremente jurar retornar ante o tribunal e combater um com o outro, e assim cada um terá perto de seis semanas de treino em paz, e terão proibido romper essa paz até que chegue o momento que foi decretado pelo tribunal.

» […] É assim que dous homens vão ao duelo — salvo se tiverem menos de cinco graus de parentesco entre si: neste caso não poderão resolver através do duelo, e isto deve ser jurado por sete homens das ramas maternas ou paternas da família de qualquer um deles […]

» E se um homem desafiado for tolheito ou tivesse má vista, será justo por parte dos juízes decretar que a pessoa completa seja posta ao nível da outra, e este decreto deve ser feito assim ambos os homens jurem, para assim o homem tolheito ou com má vista ter oportunidade de vencer no duelo igual que o outro.

» E quando as seis semanas tenham passado e chegue o dia, então ambos devem apresentar-se diante dos juízes […] e nesse momento o acusador deve jurar que tem causa para combater contra o outro, e que considera o outro culpável. E assim os juízes marcarão uma arena e uma guarda para o duelo e um veredito, e darão conselhos seguindo os costumes da terra: que o homem errado será derrotado segundo a honra demanda, e que isto será prova de que o outro falou com verdade e justiça.

» Quando os combatentes se chegarem à arena, o juiz olhará para ambos e lembrará que está proibido tentar eludir o duelo nem por saúde nem por riqueza, e que ninguém poderá intervir na luta nem ajudar os combatentes […]

» E se qualquer combatente saísse da arena antes de o duelo chegar ao seu mortal fim, seja porque foi empurrado fora pelo seu oponente ou porque tenta fugir ou pelo motivo que seja, ou mesmo se admite que o outro homem tinha razão na causa do combate — então esse homem será julgado derrotado, e correspondentemente executado e matado. Porque foi conquistado por outro homem em combate, e foi feita justiça seguindo a lei e costume da terra».

— Hans Talhoffer, 1459, MS Thott.290.2º.
Extraído dos antetextos do livro Há Uma Única Arte da Espada.

 

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Proémios para o estudo das armas de haste

Ringes gut fesser | glefney sper Swert unde messer

— Johannes Liechtenauer, Zettel.

Embora a nossa atividade principal é o estudo da espada de duas mãos sem armadura, a Arte do Combate faz uso duma panóplia mais ampla que aplica os mesmos conceitos. O estudo desses conceitos através das diferentes armas permite, com frequência, um melhor ou maior entendimento dos mesmos.

Nos últimos tempos, em parte forçados polas circunstâncias, estamos a afundar no estudo do combate com armas de haste. Este artigo pretende recolher as minhas notas iniciais, e será seguido doutros a tratar uma primeira interpretação de várias fontes — deverão ser todos arquivados sob o tag «Hastes» deste blogue.

As fontes

Existe muito material dentro do corpus das HEMA para as hastes, mas o interesse da Arte do Combate está nas armas da cavalaria do S.XIV – XV, e especialmente a tradição de Liechtenauer e adjacentes, o que restringe as fontes às que podemos recorrer.

De momento estamos a usar como referência:

  • A Zettel (completa) de Liechtenauer inclui algumas técnicas para lança, tanto a cavalo como a pé, sempre com arnês. Não todos os manuscritos a comentar a Zettel afundam nesta matéria, porém. Ringeck e Lew sim, por exemplo, em medida diferente. Também Danzig.
  • Le Jeu de la Hache é um tratado especializado em combate com archas em arnês. É muito interessante e, embora fale especificamente de archas (hache, Axt, Mordaxt, Pollax), o 95% da técnica é igualmente aplicável a uma lança ou um bastão. O restante 5% pode ser adaptado com maior ou menor dificuldade.
  • Os diversos tratados para o jogo da espada curta em arnês. A técnica da espada empunhada com uma mão no cabo e outra na lâmina é muito semelhante à descrita para a Mordaxt.

Nas aplicações da arma compre distinguir:

  • Haste a pé e lança a cavalo
  • Haste com arnês e haste sem ele
  • Pegada curta e pegada longa
  • Há distinções também na forma da ferramenta: Lança (Glefen, Sper), Archa (Mordaxt, Axt, Hache) e Bastão/Vara (Stangen).

No presente estamos a focar no uso da lança a pé, com e sem arnês.

«Haste» como conceito transversal: contextos

Do meu ponto de vista a distinção morfológica (lança/archa/bastão) é relativamente irrelevante quando falamos de combater vestindo arnês. A técnica é muito semelhante.

No caso do bastão em combate com roupa de rua, a técnica vai ser muito semelhante à utilizada para o combate com arnês. Ainda que uma estocada dum bastão pode ser muito lessiva, em termos gerais os estremos, ao não ter fio nem ponta, não são uma ameaça tão imediata. As «cuteladas» do bastão vão ser o aspeto principal do jogo. Para fazer um bom jogo de cuteladas com uma haste das nossas dimensões,1 o melhor é pegar nela no meio, como se empunha uma archa ou lança contra alguém que veste arnês.

Por contra, se usamos lanças ou archas contra alguém que não veste arnês, o razoável é empunha-las por um estremo e usar técnica semelhante à duma espada longa: combater desde as Hengen e usar Winden e estocadas e cortes (schnitten) desde a Sprechfenster. Aproveitar o alcanço máximo, e tentar colocar boas estocadas guardando-nos das da outra pessoa. Eu prescindiria quase totalmente de cuteladas, salvo que se veja uma oportunidade muito evidente.

Isto é congruente, de novo, com a recomendação do 3227a, que fala de que a «stangen» (que literalmente é bastão, mas que eu interpreto como modelo para as armas de haste em geral) devem ser usadas com a técnica da espada. Isto é: a espada encurtada (uma mão no fio) para combater contra alguém que veste arnês (=a técnica da archa) e a espada «longa» para combater contra quem não (o já dito acima).

Hastes na Arte do Combate: caraterísticas

Uma haste de 240cm serve como arma por si própria (Stangen) ou para montar cabeças de lança (Sper, Glefen) ou archa (Mordaxt, Axt, Hache).

Em consequência, começamos por definir o que será uma haste no contexto da Arte do Combate: qualquer vara de madeira, com ou sem ferragens nos estremos, igual ou superior à altura da pessoa que a empunha. A cota superior estaria no limite que permita usar a haste com comodidade a pé.

O ponto ideal está num comprimento de haste que pudera ser usada tanto a pé como a cavalo. Esta medida está entre os 250 – 350 cm. Mais disso fará a haste de difícil manuseio a pé. Menos, dificultará o seu uso a cavalo.2

Logicamente existem hastes especializadas só para o uso a pé, menores mesmo que a estatura de quem as empunha, e mais longas para uso a cavalo. Estimamos que a lança de uso exclusivo para cavalaria pudera chegar aos 4 – 5m. Mas este não é o nosso objeto atual de estudo.

Jason Kingsley, da Modern History TV, a mostrar uma lança duns 4.5m, a cavalo.

A madeira que estamos a usar é de bidueiro (bétula em Portugal, birch em inglês). É ligeira e doada de trabalhar, e existia na Europa na idade média.

Das minhas pesquisas acho que a madeira ideal seria teixo (yew em inglês), igual que os arcos. Mas é difícil e caro procurar hastes dessa madeira aqui.

Como nota marginal, na cultura popular da Galiza o bidueiro está associado à proteção de moradas e proteção contra o mal. Na idade média, os criminosos eram chicoteados com ramos de bidueiro. De modo que não semelha má madeira para fazer lanças (ou escudos).

A espessura da haste dependerá da aplicação e das preferências pessoais. Para uma haste curta de uso exclusivamente a pé, 2.5cm podem ser suficientes: isso fará que seja mais ágil e fácil de empunhar. Por contra, uma ferramenta mais longa que vai ver uso a cavalo necessitará um diâmetro maior. Nós estamos a usar hastes cilíndricas de 3.5cm de diâmetro, e acho que são um bocado excessivas: 3cm estaria bem. O ideal seria, também, uma ligeira queda distal cara a ponta, com objeto de aligeirar a haste.

Para as cabeças estamos a experimentar várias soluções:

  • Hastes sem nenhum tipo de ferragens (Stangen).
  • Cabeças de lança com asas (Sper) em aço, que face outras cabeças sem elas, estão mais orientadas para o combate a pé. Vale dizer que estas têm também um pé de ferro no extremo contrário, e que isso ajuda a equilibrar o conjunto.
  • Cabeças de lança (Sper) de borracha da ColdSteel — habitualmente não gosto dos produtos desta companhia, mas estas pontas são muito seguras e económicas. Talvez brandas demais.
  • Cabeças de archa (Axt) em borracha. Estas têm uns quantos anos e eram vendidas originalmente pela Revival.us, que não parece estar mais ativa. Porém, há fabricantes como Faits d’Armes que tomaram o relevo, e os seus produtos são bem mais atrativos (se bem caros).

As pontas da ColdSteel são muito seguras nas estocadsas, mas não têm consistência nenhuma: é quase impossível usar a parte de borracha para suster a arma contrária, como seria próprio. Porém, ao ser as hastes compridas, parte da técnica pode-se suplementar usando a madeira.

As cabeças de archa de borracha (quando menos as que nós temos) são perigosas na cutelada, mesmo sendo borracha: a força de panca duma haste faz com que mesmo o que parez um toque leve possa ferir uma mão, ou mesmo deixar inconsciênte a alguém se dá na cabeça: compre ter cuidado com elas. Por contra, as suas pontas são seguras na estocada.

As cabeças de ferro são, evidentemente, perigosas, mesmo sem estarem aguçadas — porém, a rigidez permite trabalhar melhor certas peças. São adequadas para demonstrações ou trabalho técnico. Também se assemelham mais ao peso real da ferramenta, já que a borracha é ligeira.

As hastes nuas (as Stangen, sem ferragens) são tão perigosas como podem ser, já que se trata da arma em si própria. Isto quer dizer, novamente, que compre ter cuidado com elas. Caem na mesma categoria que as hastes com cabeças de ferro.

 

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Um breve guia de estilo visual da Arte do Combate

A medida que a escola medra aumentam também as aplicações do logótipo e da sua marca. Recentemente surgiram algumas dúvidas acerca da colocação dos mendos nas jaquetas, por exemplo.

O objetivo deste guia não é estabelecer um conjunto de normas rígidas que o estudantado da AdC deve seguir, mas uma série de dicas que ajudem a compreender a estética que o clube quer projetar.

Sobre estas dicas faz sentido aplicar o critério e preferência de cada quem a nível estético ou prático. Ter uma cor particular no cabo da espada pode ser nem só idiossincrasia, mas prático para a diferenciar doutras semelhantes, por exemplo.

Outras vezes será o equipamento o que imponha limitaçons nas cores ou estética. Isto pode ser compensado se o resto de escolhas são feitas com inteligência (ver mais adiante em «cores»).

A estética pretendida

A estética da AdC, como evidenciada no logótipo, é:

  • moderna
  • contrastada
  • sólida
  • minimalista

Especificamente, não temos uma estética historicista. Não usamos fardos de recriação, nem de forte inspiração nela. Considero que já a nossa atividade e as ferramentas que empregamos nos situa com clareza nesse campo, e que tem maior utilidade destacar a forma moderna em que nos aproximamos ao estudo das artes marciais do passado.

Como lema guia: Weniger, aber besser.

Guia geral de estilo na vestimenta

Roupa confortável e técnica para desporto: não militar, não de caça, não de vestir. Queremos transmitir a ideia de que estamos a fazer uma atividade física, exercício, movimento, e um contexto presente, pacífico e diferente doutras atividades que podem ter a sua própria imagem.

Para exibições, camisola com o logótipo da AdC.

Calças longas de perna inteira, de preferência ajustadas. Isto é por motivos práticos e também para evocar levemente as que foram usadas no S.XV.

Dentro da comodidade de cada quem, roupa ajustada também para o torso: tem a memória da histórica, é mais útil no Ringen (permite pegadas no corpo, em vez de na roupa) e facilita vestir as proteções, pois não cria bolsas de tecido por baixo ou dentro delas (problema e solução, por certo, que também se dava na roupa e as armaduras do XV).

Cores

A base da vestimenta, proteções e qualquer material que vaia na pessoa deve ser preta. Para dar um pouco de volume e contraste, algumas partes ou peças podem ser de cores cinzentas, tirando preferentemente a tonalidades escuras.

Com moderação, pode-se usar o marelo do logótipo (PANTONE 137C, RGB #FFA100) como acento. Exemplos: fio nas costuras, cabos das espadas, luvas interiores nas luvas pesadas, bordados para identificar a prenda… Pode-se ficar bem mesmo em prendas interiores à camada externa de proteções (a camisola por dentro da jaqueta, por exemplo).

Como se indicou no início do artigo, pode fazer sentido usar outras cores de destaque para diferenciar o equipamento próprio (cor do cabo da espada, cor das correias das proteções, etc), mas mantendo o domínio da cor preta. Recomendo também harmonia na escolha: se a tua cor pessoal vai ser azul, que seja sempre azul, ou verde, ou vermelha — a mistura de cores resulta confusa.

Compre ter também presente que o equipamento protetor às vezes vem nas suas próprias cores, que pode não ser fácil mudar. Às vezes é possível prever isto e escolher o resto de itens com harmonia (por exemplo, os equipamentos Red Dragon trazem destaques vermelhos: seria boa ideia usar o vermelho como cor de acento no cabo da espada, ou noutros lugares). Outras vezes (se temos vontade), pode-se decorar ou personalizar esse equipamento, pintando as cores estranhas em amarelo, etc. Outras, não há o que lhe fazer — tampouco acaba o mundo.

Uso do logótipo: mendos

Quando começa a juntar o seu próprio enxoval de equipamento, o estudantado da AdC recebe um mendo1 da sala para coser na jaqueta.

O melhor lugar para o mendo é o braço não dominante (esquerdo para a gente destra, direito para a esquerdina), a uns 12cm do cume do ombro. Esta distância existe para ter a possibilidade de colocar um mendo da federação AGEA sobre o da AdC, chegado o momento.

Se esse espaço estiver ocupado por outro mendo (por exemplo, duma outra sala da que provenha a pessoa), pode-se colocar o da AdC por baixo, continuando a linha no braço. Tende presente que as proteções de cotovelo não o cobram.

Se esse lugar não estiver disponível, alternativas são: a) sobre a cadeira não dominante, deixando 2-3 cm até o bordo inferior da jaqueta ou b) ao lado e um pouco mais acima do cóccix, da mesma forma —basicamente, o espelho traseiro da opção a).

Note-se que é suficiente com um só mendo da AdC na jaqueta. Repetir várias vezes desvaloriza o logótipo, que destaca precisamente polo minimalista da contorna.

Há mendos adicionais disponíveis para quem os solicite, e também algumas variantes de desenho, cores e tamanhos. Podem-se usar em sacas de equipamento, ou suéteres, etc — sempre material complementar ao fardo de esgrima.

 

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Algumas reflexões sobre sparring e etiqueta

Nota do Tradutor: Esta é uma tradução (autorizada) do artigo do Keith Farrell Some thoughts about sparring and etiquette, já que posso assinar ao 100% as suas reflexões e queria ter uma versão na nossa língua disponível para o estudantado da Arte do Combate. Imagino que será também de utilidade para outros grupos de HEMA lusófonos. Se gostas do artigo, podes querer achegar um par de euros para o café do Keith.
A imagem de destaque do artigo é um abraço entre o Keith Farrell e o Jacopo Penso no TaurHEMAchia de 2017, por Andrea Boschetti.

Praticamente todos os clubes de HEMA praticam algum tipo de sparring ou jogo livre, e todos têm alguma forma de etiqueta que governa como as pessoas se comportam e como lidam com as situações que surgem durante os assaltos.

É muito fácil acomodar-se na forma como as cousas são feitas no nosso clube e pensar que isso é «o normal» em toda a comunidade — mas se visitas outro clube ou participas de um evento, rapidamente vás ver que outras pessoas parecem fazer as cousas de forma diferente.

Acho que vale a pena pensar na etiqueta que o teu clube tem para o jogo livre. Por que achas que as cousas são feitas como são feitas, e em quê consistem essas regras ou comportamentos?

O que fazemos antes de combater?

Simplesmente encontras uma pessoa disposta e já começais o assalto? Ou seria melhor conversar rapidamente antes de começar, para ter certeza de que há mútuo acordo acerca dos detalhes?

Eu costumo ter uma palavra rápida com a outra pessoa antes de começarmos. É uma grande oportunidade para verificar os equipamentos de proteção que vai (ou não!) usar, e ter certeza de que há acordo sobre a velocidade e intensidade desejadas. Também é muito útil mencionar quaisquer lesões ou limitações, para que este tipo de informação fique presente, e assim evitar mais danos ou problemas durante o assalto.

Para ser honesto, esta é uma das cousas mais importantes que podes fazer para tornar o sparring mais seguro e produtivo. Uma conversa rápida, de dez segundos ou menos, e podes descansar na certeza de que ambas pessoas vão jogar ao mesmo jogo.

Como começar o assalto?

Eu acho que é saudável começar o combate saudando a outra pessoa, a reconhecer que a luta dá começo e também como mostra de respeito. Porém, antes de fazer cousa nenhuma com a espada, acho inteligente colocar a máscara de esgrima na cabeça se ainda não estiver lá!

Já vi alguns «quase acidentes» ao longo dos anos em que as pessoas não usaram máscaras e moveram-se para iniciar diferentes saudações ou apertos de mão e, inesperadamente, uma espada passa muito perto do rosto de alguém. Não é preciso esforço nenhum para remover o risco da equação: basta colocar a máscara antes de fazer QUALQUER cousa com uma espada, incluindo a saudação.

Assim que a máscara estiver segura na tua cabeça, deves fazer uma rápida lista de verificação mental para ter certeza de que também vestes todos os outros equipamentos. Luvas? Já vi pessoas esquecerem-se delas após precisar das mãos para colocar a máscara. Depois verificar o teu próprio equipamento, dá uma olhada rápida no da tua parceira e certifica-te de que esteja usando máscara e luvas. Não é apenas o seu problema se esquecem de vestir algo — tu também és responsável das pessoas com que partilhas treino.

Só deves fazer a saudação quando tiveres certeza de que o teu equipamento e o da outra pessoa estão prontos para combater, e tenhas vontade de iniciar o jogo livre. Quando seja assim, faz a tua saudação. Após a fazer é quando podes começar o assalto — mas não antes de ambas as pessoas terem saudado.

Em termos da saudação em si, eu prefiro algo simples. Costumo erguer a minha espada na frente do rosto, empurro-a um pouco para frente em direção à minha parceira, e coloco-me em postura de combater. Não há necessidade de cruzar as espadas, não há necessidade de agitar a tua espada como se fosses o Arnold Rimmer a saudar, não há necessidade de saudar toda a outra gente na sala. É melhor agires de forma breve e direta, indicando à tua parceira que já queres começar e, então, quando ela também indique que está pronta, podes começar.

Como lidar com os toques?

Existem várias maneiras diferentes de lidar com os toques durante o jogo livre. Podes lançar um outro golpe a continuação [afterblow] ou não. Podes permitir um segundo golpe além do primeiro, ou podes parar de atacar depois que o primeiro golpe acertar. Podeis voltar às posições iniciais ou apenas dar um passo para trás para ganhar um pouco de espaço antes de começar de novo. Podes fazer uma saudação completa para reconhecer um acerto, reconhecê-lo informalmente ou mesmo não fazer nada para reconhecê-lo.

Clubes diferentes têm maneiras radicalmente diferentes de lidar com isto, polo que pode ser bom discutir brevemente a questão antes de começar.

No meu clube, geralmente permitimos um golpe posterior de forma amigável, mas esperamos que ambas pessoas se separem um ou dois passos e que a que foi atingida reconheça o que aconteceu. Qualquer cousa além disso (saudações ostentosas, por exemplo, ou retornar aos cantos desde os que iniciou o combate) é amplamente supérflua; no entanto, é importante para nós marcarmos que um acerto aconteceu e, portanto, terminar essa troca e permitir que uma nova troca comece de novo.

E como lidar com toques duplos? Novamente, clubes diferentes lidarão com isto de forma diferente. No meu clube, espero que ambas pessoas reconheçam que foram atingidas, porque foi precisamente isso o que aconteceu.

Algo do que particularmente não gosto é quando uma pessoa dá as costas para a outra, ao voltar ao ponto de partida. Isso perturba-me imensamente, pois sinto que virar as costas para alguém durante um combate é estúpido e desrespeitoso. Se eu tivesse feito isso durante qualquer treinamento de karaté, os meus instrutores teriam-me gritado (com razão), e as parceiras de treinamento (com razão) teriam-se sentido desconsideradas e desrespeitadas. No golfe, ficas a olhara para a bola até ver onde caiu. Na arquearia, ficas a olhar no alvo até ver onde a flecha cai. No combate, deves ficar de olho na oponente até que o assalto termine definitivamente.

É claro que alguns clubes não veem problema em virar as costas para a parceira entre toques. Se essa é a etiqueta do clube, então que seja assim — eu simplesmente não gosto, e esse é o meu problema se participo em sessões de jogo livre em clubes onde isso é aceitável. Mas no meu clube, vou repreender-te se te vejo fazer isso.

É extremamente importante saber qual é a etiqueta do clube ou evento em que estás a participar e adequar o teu comportamento às regras locais. Nenhum clube deve mudar as suas regras para corresponder ao costumas fazer noutro lugar: a responsabilidade é inteiramente a tua, como visitante, de modificar o que estás a fazer para se alinhar com a etiqueta e regras locais.

Como lidar com situações incómodas?

O que fazer numa situação em que alguém está a agir perigosamente, batendo com muita força ou fazendo-te sentir desconfortável?

Se eu sinto a necessidade de falar com a minha parceira de treino sobre algo, talvez para pedir uma intensidade menor ou para lembrar que deve prestar atenção em algo em que deveria estar a trabalhar, então geralmente faço um sinal mostrando que quero falar.

Eu tendo a tirar a minha mão esquerda da espada e erguer a palma num gesto de «stop» bem universal, enquanto deixo a minha espada de ponta para o chão de uma forma não ameaçadora. Assim que a outra pessoa vir isso e para de se mover em modo de combate, vou chamá-la com a mão esquerda e dar um passo à frente, certificando-me de que a minha espada permaneça a apontar para o chão, sem ameaçar. Então falamos o que deva ser dito e depois podemos voltar ao combate.

Definitivamente prefiro que o meu estudantado converse entre si no meio de um combate para resolver um problema, do que alguém continuar a agir de forma insegura e deixando a outra pessoa desconfortável. Prefiro que os meus alunos falem e iniciem uma discussão rápida do que ter que arrefecer os temperamentos e «lidar com o problema» quando a questão potencialmente escale.

E, se simplesmente não for possível resolver a situação ou comportamento que te deixa desconfortável, para de combater com a pessoa. Saúda, dá um passo para trás e termina o assalto. Não tens por que continuar a combater com uma pessoa que achas perigosa, mal-comportada ou problemática.

Um pensamento final sobre isto é que, se sou eu quem comete um erro durante jogo livre e faço algo que não considere apropriado ou muito arriscado, ou que possa ter deixado a outra pessoa desconfortável, vou sinalizar para fazer uma pausa e oferecer um pedido de desculpas. Às vezes, até mesmo as melhores esgrimistas ou instrutoras podem cometer erros, ou perder o controle por um momento! Não perdemos nada ao oferecer um pedido de desculpas rápido, mas genuíno, para mostrar que erros como esse não foram intencionais.

Costumo ser muito mais indulgente nos combates se a outra pessoa se desculpa após bater com força demais, ou com entusiasmo demais. Claro, se continua a se desculpar pola mesma cousa todo o tempo, isso não é ótimo: talvez peça para se esforçarem mais em evitar o comportamento problemático, talvez simplesmente peça mais três trocas para podermos encerrar o assalto. Mas um pedido de desculpas genuíno mostra-me que a outra pessoa não está apenas sendo idiota e posso perdoar muitos mais os erros ou elementos estranhos, ou desconfortáveis.

E pedir desculpas quando eu cometo erros significa que as minhas parceiras vão-me estender a mesma gentileza quando eu não estiver na minha melhor forma.

Como terminar o combate?

Os combates geralmente chegam à sua conclusão de uma das três maneiras: ao transcorrer um determinado período (um alarme ou alguém avisa), no final de um determinado número de trocas (após a 10.ª troca, por exemplo), ou diretamente quando alguma das pessoas acha que já teve suficiente. As duas primeiras opções são boas e simples, mas a terceira opção, a do combate um tanto aberto, pode ser difícil de concluir.

Nessa situação, geralmente faço um sinal para a outra pessoa a mostrar que quero conversar e, a seguir, proponho “mais três trocas?” Isso geralmente é bastante aceitável, embora se a outra pessoa estiver com dificuldades, ele pode responder com “ufa, só mais um, por favor?” ou algo assim. Eu acredito que é apenas razoável parar no ponto mais cedo solicitado, ao invés de forçar alguém a lutar além do que sente que pode lidar com segurança. E então combatemos o número combinado de trocas e terminamos.

Quando chega a hora de terminar, acho melhor dar um passo para trás para abrir espaço, e depois saudar. A saudação mostra que pola tua parte o combate terminou, e mais uma vez é um sinal de respeito e agradecimento polo tempo e esforço dedicado a combater contigo.

Porém, assim como na saudação do início do combate, deves manter a máscara posta! Novamente, eu já vi muitos «quase acidentes» em que duas esgrimistas terminaram um combate, uma começa a saudar levantando a espada com a ponta para a frente ao tempo que a outra pessoa tira a máscara e começa a dar um passo à frente para dar um aperto de mão. Isso não deve acontecer. Apenas mantém a tua máscara posta até todo o mundo finalizar de mover as espadas.

Então, no meu clube, mantemos as nossas máscaras postas, damos um passo para trás, saudamos e depois tiramos a máscara.

Em condições normais e não pandêmicas, pode ser inteiramente apropriado avançar nessa fase (com as espadas apontando para o chão ou inteiramente deitadas no chão!) e apertar as mãos (ou tocar os punhos, com luvas grossas), ou oferecer um abraço se for alguém que conheces bem.

Esta pode ser uma oportunidade ideal para fazer uma troca de impressões rápida e rever o que aconteceu. Gosto de assinalar às minhas parceiras qualquer cousa de que gostei do seu desempenho e, em seguida, perguntar se desejam um conselho para melhorar. Não começo apenas dizendo o que devem fazer melhor, porque às vezes já as próprias pessoas saberão e podem não querer ouvir. Acho mais eficaz dizer algo genuíno e honesto sobre o que gostei no seu desempenho e, em seguida, oferecer uma crítica construtiva (mas apenas se quiserem ouvi-la).

Logicamente, é melhor sair da área para ter esta conversa. Provavelmente faz mais sentido saudar, tirar as máscaras, dar aquele aperto de mão ou abraço rápido (ou algo apropriado para Covid) e, em seguida, mover-se ambas pessoas e o seu equipamento para o lado para que outras possam entrar na pista de jogo livre. Desta forma podes falar sem causar problemas para ninguém.

Conclusões

Este artigo descreve a forma em que gosto de ver os combates conduzirem-se em termos de etiqueta no meu clube. Espero que as explicações ajudem a mostrar porque acho que essa etiqueta é um bom conjunto de regras para governar o jogo livre num clube ou evento.

Qual é a etiqueta no teu clube? Tens elementos adicionais que não estão descritos aqui ou lidas com algum deles de maneira diferente? Ignoras qualquer desses elementos? Em caso afirmativo, porquê?

E talvez a pergunta mais interessante: seja qual for a etiqueta de jogo livre no teu clube, segue-la «porque sim», ou já pensaste em como em definir a etiqueta para atingir objetivos específicos?

Tenho verdadeiro interesse em ouvir a tua opinião sobre o assunto!

 

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[ Nota do Tradutor: Esta é uma tradução (autorizada) do artigo do Keith Farrell Some thoughts about sparring and etiquette, já que posso assinar ao 100% as suas reflexões e queria ter uma versão na nossa língua disponível para o estudantado da Arte do Combate. Imagino que será também de utilidade para outros grupos de HEMA lusófonos. Se gostas do artigo, podes querer achegar um par de euros para o café do Keith. ]